Aqui vai mais uma novidade do blog: todo sábado vamos postar um capítulo desse conto escrito pela lindíssima da Tay Freitas. Nós adoramos e esperamos que vocês gostem também 💕
STUCK
Um erro do destino
Um elevador.
Duas pessoas que se odeiam.
Uma queda de energia.
O que você acha
que pode acontecer?
CAPÍTULO UM
CARINE
Pego
a bolsa pequena, a última coisa que me faltava para pegar. Olho pela janela
enorme, que vai do teto ao chão, usando-a como espelho para arrumar o meu
vestido azul cobalto de seda. Era ano novo e eu não queria aparecer mal vestida
na festa da empresa. Gostaria de aproveitar o último dia do ano e começar o
novo do melhor jeito possível. Se gastar montes de dinheiro num vestido era
essa forma, que assim seja.
Já
com tudo o que eu preciso, pego as chaves e saio do apartamento, fechando-o em
seguida. Sorrio. Depois de anos esperando por isso, eu finalmente alcanço o
ápice de minha alegria. Consegui quase todos os meus objetivos, exceto um,
encontrar o amor. Pelo menos um que permanecesse e fosse fiel. Contudo, esse
nunca foi o meu principal objetivo.
Aperto
o botão do elevador, algo que eu nunca, nunca, nunca deveria ter feito. Eu
poderia ter ido de escada, mesmo que fossem dez lances de escada e eu estivesse
de salto agulha de oito centímetros. O elevador ainda inocente demora só alguns
segundo para chegar, como se já estivesse vindo para cá. Ele chega e minha
alegria acaba no momento em que a porta se abre, me dando uma surpresa um tanto
terrível.
Thomas
estava dentro do elevador.
Deixe-me
lhe explicar: aquele canalha era o meu vizinho, que trabalhava na mesma empresa
que eu. Éramos subordinados da reitora da Casa
Editrici, usado somente como Editrici,
que significa editora em italiano. Muito original, certo? Não, já que quem
sugeriu o nome foi a pessoa a minha frente. Resumindo: eu odiava aquele cara,
não só por aquilo, mas também porque ele não me deixava dormir. Meu quarto,
infelizmente, ficava do lado do quarto dele. Então, quando ele recebia visitas,
os barulhos ficavam absurdamente altos. E não me deixava dormir. É terrível.
- E aí, Care, vai ou não entrar? – ele me pergunta,
levantando uma sobrancelha. O tempo que o elevador levaria para chegar no
térreo, se ninguém mais o chamasse, seria de um minuto. Eu aguento isso. Entro
no cubículo de 1mx2m, realizando uma das piores ações da minha vida. Ignoro
ele, tentando ficar calma.
1...2...3...
- Ah, vamos lá, Carine. Não sou tão mau assim. – disso eu
não estava certa.
10...11...
12...
-
Só se cale, Thomas. – digo.
-
Pelo menos o meu nome você conhece. – dou-lhe um soco no braço. – Finalmente
uma reação!
Ouço
um barulho de algo travando, rasgando.
-
Opa. O que foi isso? – pergunto, agora preocupada. – Que barulho foi esse? –
olho para ele, o tal realmente sério.
-
Eu não sei. Soou mais como... – ele começa a dizer, mas privo o que ele irá
falar.
-
Mais como o elevador travando? – pergunto, sem necessitar de confirmação, já
sabendo que essa era a verdade. Ele assente com a cabeça lentamente, concretizando
ainda mais a minha certeza. A avassaladora terrível verdade. Meu pior pesadelo
tinha se concretizado. Eu estava presa por tempo indeterminado com a pior
pessoa com a qual se poderia ficar preso, sério, até Hitler seria melhor.
-
Sim, Care. Está travado. – ele soca um botão no painel, provavelmente o que
alertava que tinha pessoas naquele lugar. Que o inferno comece, senhoras e
senhores!
THOMAS
Isso
vai ser um grande terror. Pelo menos para Carine, já que ela me ‘‘ama’’. Olho
no meu relógio e vejo que já são sete e meia da noite. Eu, ou melhor, nós,
vamos para a festa da empresa, e provavelmente, se esse elevador demorar demais
para voltar a funcionar, chegaremos muito atrasados.
-
Ah, céus. Eu não mereço isso. Eu não mereço isso. Eu não mereço isso. – posso
escutar ela sussurrando.
-
E você acha que eu mereço? – digo, olhando para ela.
-
Claro, mas não comigo. Você deveria ficar sozinho aqui. Sofrendo em silêncio e
tal. – ela diz, mal humorada.
-
Nossa, eu sou o capeta em pessoa, né? Você é a santa. Ah, não. Pera. Você não é
santa coisíssima nenhuma, já que santos perdoam. – digo, ficando impaciente. Eu
me recosto na parte mais longe dela e nos encaramos.
-
Sério? Não fui eu que traí uma pessoa. Ah, e tinha acabado de dizer que amava
essa! – ela sorri sarcasticamente. – Posso até não ser santa nenhuma, mas sei
que eu ainda tenho salvação. Já você... – ela solta um riso seco – tem um lugar
especial no inferno para você.
-
Eu não te traí, caramba! Não te traí! Quanto tempo você ainda vai teimar comigo
por causa disso? – digo, tentando justificar-me. E falhando miseravelmente.
-
O tempo que for necessário, até a sua morte. E mais três dias, apenas para
certificar me de que você já está morto mesmo. – ela fecha a cara.
-
Bem, eu já disse e cansei de dizer. Não te traí. Já fiz de tudo para me
redimir, para ter sua confiança de volta, Care. Mas você não aceita, se faz de
vítima. Larga mão de ser irritante, poxa! – eu digo isso, gesticulando com as
mãos. Ela vira o rosto para a porta fechado do elevador. Ela suavemente passa a
mão no rosto, provavelmente enxugando uma lágrima. Eu sabia que não deveria ter
falado aquilo, atingi ela no seu ponto fraco. E isso acabava comigo.
Deixe-me
lhes explicar:
Eu
e Carine namorávamos há quatro meses. Tudo tinha começado de uma forma simples.
Ela trabalhava num clube, meio turno, para pagar a faculdade que ela estava
fazendo. Eu era sócio do mesmo clube, e um certo feriado, eu resolvi nadar, O
problema é: eu não sei nadar. Como não queria pagar de idiota, já que é raro
achar alguém de vinte e um anos sem saber nadar, eu fui mesmo assim, tentando
me virar. O problema é que sorte não faz parte da minha vida. Acabei me afogando,
obviamente, na parte mais funda da piscina. Quando Carine me viu, ela mergulhou
na água e foi me buscar. Eu não lembro de nada, estava inconsciente. Só sei que
ela teve que fazer respiração boca-a-boca e foi nessa hora que eu acordei.
Restou-me pensar uma coisa: tem uma mulher muito bela me beijando. O que eu
posso fazer? Exato. Retribuir. Ela percebeu o que eu estava fazendo e me jogou
na piscina novamente. Eu comecei a me debater, morrendo de medo de me afogar
novamente. Mas eu não tinha percebido que a piscina na qual ela me jogara era a
piscina de crianças. Acabou que todos ao redor ficaram rindo de mim e ela me
ajudou a levantar. Consegui convencê-la a jantar comigo, já que ela tinha tão
arduamente me feito passar vergonha na frente de um grande número de pessoas. O
jantar foi indo e acabou que rolou um clima. Quando fomos voltar para casa,
entrei em meu carro e comecei a dirigir. E ela estava me seguindo. Estranho,
não? Qualquer um ficaria meio afoito. Contudo, deixei pra lá e continuei meu caminho.
Entrei no condomínio e estacionei meu carro. Percebi que uma moto parou ao meu
lado, idêntica à de Carine. Desligo o carro e saio e acabo confirmando minhas
suspeitas: era Carine do meu lado. Descubro que somos vizinhos e começamos a
conversar. Uma coisa leva a outra e no dia seguinte estávamos juntos. Porém
tudo acabou da pior forma terrível, tanto para mim, tanto para ela. Talvez até
pior para ela. Por culpa minha.
A
culpa não era toda minha, mas eu tinha uma parcela considerável.
-
Carine... Me desculpa, eu não devia ter dito isso, eu não sei o que falei, me
des... – começo a falar, verdadeiramente arrependido, contudo sou interrompido.
-
Não me importo mais, Thomas. Mesmo que você realmente estivesse arrependido do
que você fez ou disse, o passado não se apaga. Não é necessário suster uma
conversa. Isso só vai durar mais uns dez segundos. Não é necessário uma troca
de palavras. – ela diz, o rosto sem emoção. Eu estraguei tudo. Novamente. Que
animador.
Provavelmente
essa foi a última chance de consertar o meu erro.
Ouço
um som de algo travando, como se estivesse arranhando. A luz no elevador pisca,
como se estivesse falhando. Bem, falha. Fica tudo escuro por alguns segundos, a
luz de emergência ligando.
-
Não. Não, não, não, não, não, não, não. Isso não pode estar acontecendo. –
sussurra a voz de Care.
-
O que foi? – pergunto. Para mim é só uma pane rápida. Vejo seu rosto, iluminado
pela fraca luz de led, se virar em minha direção.
-
Algo pior que o inferno na terra. A energia acabou.
0 comentários :
Postar um comentário
Gostou? Então deixe seu comentário!